Ao natural é melhor
Uma jovem família alimenta a crença de uma vida saudável, em sintonia com a mãe natureza. Plantam os seus legumes, alimentam-se de produtos biológicos, tiveram um filho em casa e o bebé usa fraldas de pano. Quem pensar que deviam ter nascido noutra geração, desengane-se – nunca fez tanto sentido existir uma família como esta.
"Eu assisti ao parto do meu filho como praticamente mais nenhum pai assiste, porque um parto no hospital não é a mesma coisa que estar ali em cima do acontecimento, e achei brutal!"
É assim que se desenrola a história de Fernando Sousa e Patrícia Noya – imersa numa onda de verdadeira felicidade que se deixa transparecer muito para além do discurso radiante do recém-papá.
Fernando, de 34 anos, é web designer. Patrícia, de 35, é técnica agrícola e agricultora. Residem na Aldeia de Paio Pires, concelho de Seixal, e são pais do pequenino Guilherme, de três meses, que, quando for grande e confrontado com a pergunta "onde nasceste?", responderá com toda a naturalidade: em casa.
Patrícia, de faces rosadas e sorriso fácil, fala acerca das suas opções de vida sem mistérios nem grandes receios, confiante dos benefícios que lhe trouxeram todas as suas escolhas. Enquanto estudante, o seu percurso académico passou por uma escola agrária em Santarém, o que a levou a estar sempre próxima da agricultura. Ao terminar os estudos, começou por trabalhar numa empresa que comercializava fertilizantes, o que lhe permitiu conhecer vários agricultores e aproximar-se, mais especificamente, da agricultura biológica. Actualmente, trabalha numa exploração agrícola em Águas de Moura, perto de Setúbal, que produz morango em modo biológico. Paralelamente ao seu trabalho com os morangos, Patrícia dá vida ao projecto que possibilita às pessoas terem a sua própria horta biológica em casa.
Hortas biológicas
ABC Hortas Gourmet surgiu da ideia de criar uma empresa de horticultura. "Algumas pessoas têm jardins, mas nesses jardins só têm plantas ornamentais. Nós pensámos, já que tínhamos formação a esse nível, oferecer às pessoas a possibilidade de, a par do jardim, terem também uma horta. Fornecer as plantas para se poder produzir, o apoio técnico e o composto orgânico."
A pensar naqueles que vivem em apartamentos e não têm quintal em casa, o ABC criou o conceito de hortáteis – hortas portáteis. Patrícia explica: "São caixas feitas de madeira reciclada, à medida de cada um. Nós construímo-la e nesse espaço a pessoa pode ter várias plantas."
ABC Hortas Gourmet marca presença em várias feiras, tentando trabalhar ao máximo para a sua divulgação. Conta já com um cliente fixo, que recebe apoio semanal de quatro horas na horta, com vista à sua manutenção. Patrícia acredita que este é um projecto com pernas para andar. Por agora encontra-se um pouco na retaguarda, "porque a energia de uma mulher recém-mãe fica muito direccionada para a criança". Confessa ainda, entre risos, que lhe custa um bocadinho pensar em muitas coisas que não sejam o bebé. Quanto ao Guilherme, pequenino, gosta que assim seja, porque é da maneira que fica com a mãe só para ele por mais uns tempos.
É assim que se desenrola a história de Fernando Sousa e Patrícia Noya – imersa numa onda de verdadeira felicidade que se deixa transparecer muito para além do discurso radiante do recém-papá.
Fernando, de 34 anos, é web designer. Patrícia, de 35, é técnica agrícola e agricultora. Residem na Aldeia de Paio Pires, concelho de Seixal, e são pais do pequenino Guilherme, de três meses, que, quando for grande e confrontado com a pergunta "onde nasceste?", responderá com toda a naturalidade: em casa.
Patrícia, de faces rosadas e sorriso fácil, fala acerca das suas opções de vida sem mistérios nem grandes receios, confiante dos benefícios que lhe trouxeram todas as suas escolhas. Enquanto estudante, o seu percurso académico passou por uma escola agrária em Santarém, o que a levou a estar sempre próxima da agricultura. Ao terminar os estudos, começou por trabalhar numa empresa que comercializava fertilizantes, o que lhe permitiu conhecer vários agricultores e aproximar-se, mais especificamente, da agricultura biológica. Actualmente, trabalha numa exploração agrícola em Águas de Moura, perto de Setúbal, que produz morango em modo biológico. Paralelamente ao seu trabalho com os morangos, Patrícia dá vida ao projecto que possibilita às pessoas terem a sua própria horta biológica em casa.
Hortas biológicas
ABC Hortas Gourmet surgiu da ideia de criar uma empresa de horticultura. "Algumas pessoas têm jardins, mas nesses jardins só têm plantas ornamentais. Nós pensámos, já que tínhamos formação a esse nível, oferecer às pessoas a possibilidade de, a par do jardim, terem também uma horta. Fornecer as plantas para se poder produzir, o apoio técnico e o composto orgânico."
A pensar naqueles que vivem em apartamentos e não têm quintal em casa, o ABC criou o conceito de hortáteis – hortas portáteis. Patrícia explica: "São caixas feitas de madeira reciclada, à medida de cada um. Nós construímo-la e nesse espaço a pessoa pode ter várias plantas."
ABC Hortas Gourmet marca presença em várias feiras, tentando trabalhar ao máximo para a sua divulgação. Conta já com um cliente fixo, que recebe apoio semanal de quatro horas na horta, com vista à sua manutenção. Patrícia acredita que este é um projecto com pernas para andar. Por agora encontra-se um pouco na retaguarda, "porque a energia de uma mulher recém-mãe fica muito direccionada para a criança". Confessa ainda, entre risos, que lhe custa um bocadinho pensar em muitas coisas que não sejam o bebé. Quanto ao Guilherme, pequenino, gosta que assim seja, porque é da maneira que fica com a mãe só para ele por mais uns tempos.
Com o surgimento do ABC e com a necessidade de ter um espaço para semear as plantas necessárias para fornecer aos clientes, Patrícia e o sócio Rodrigo decidiram aproveitar a mesma terra para plantar produtos para seu próprio consumo. Desta forma, Patrícia não tem a sua horta em casa, mas tem sim uma horta comunitária. É um espaço partilhado, com cerca de 60 metros quadrados, onde vai plantando os legumes de cada época. "Neste momento, temos plantados tomates, courggetes, pimentos, feijão verde, muitas ervas aromáticas, morangos..." Patrícia garante que num pequeno espaço, desde que haja planeamento, é possível várias famílias se alimentarem.
O seu desejo é que à semelhança de outras Câmaras Municipais, como a de Coimbra ou a de Braga, também a do Seixal adira a este conceito de horta comunitária. Através da cedência de terrenos à população, acredita que esta realidade se pode tornar possível no seio de mais famílias. Esta jovem, que considera relaxante a actividade de sujar as mãos na terra, acredita que grande parte das pessoas não aderiu ainda à ideia de ter uma horta por achar que é preciso ter muito espaço para se conseguir produzir. Ela desmente: "Para termos, por exemplo, uma planta de courggete, necessitamos apenas de um vaso com 20 centímetros de diâmetro e 20 centímetros de profundidade". O mesmo acontece para uma planta de beringela ou de tomate.
Saber para decidir
O pequenino Guilherme ainda só mama. Quando deixar de beber o leite da mãe, passará para as papas, mas diferentes das que estamos acostumados a ver – estas serão de agricultura biológica. A mãe, sob a crença de que "somos o que comemos", só faz as compras para casa em supermercados biológicos. Para ela, tornou-se uma questão de hábito: atravessa a ponte e vai às compras a Lisboa. Biocoop (Prior Velho), Brio (Campo de Ourique) e Miosótis (Campo Pequeno) são as lojas que costuma visitar para as compras de mercearia semanais.
Patrícia considera que sempre se interessou por "coisas um bocadinho alternativas". A sua mudança de atitude começou, justamente, pela alimentação: "Há quatro, cinco anos comecei a procurar uma alimentação mais vegetariana". Deixando de comer carne, começou a procurar novos ingredientes, a comprar novas revistas e a descobrir novos mundos. Chegou a frequentar formações em massagem ayurvédica e em massagem à cabeça.
Foi através da massagem ayurvédica que conheceu uma doula. Na altura, não fazia ideia do que significava mas conta que, mal chegou a casa, foi investigar sobre o assunto. Percebeu, então, que se algum dia engravidasse, gostaria muito que essa pessoa acompanhasse a sua gravidez e usufruir dos conhecimentos que ela lhe poderia oferecer. Assim foi: passados quatro anos de se terem conhecido, Patrícia engravidou e contactou-a para que fosse a sua doula.
Doula significa "mulher que ajuda". Trata-se de uma mulher que geralmente já foi mãe e que apoia "casais grávidos", como Patrícia gosta de chamar. Dá-lhes formação, explica-lhes todo o processo da gravidez, esclarece dúvidas e apoia-os a nível físico, com massagens e truques para que a mãe se sinta melhor. A doula fica ainda ao lado da mulher na altura do parto e ajuda-a a sentir-se segura nesse momento, de forma a facilitar o processo de nascimento do bebé.
A Associação Doulas de Portugal forma estas mulheres. Patrícia considera que elas fornecem uma ajuda muito importante aos casais, porque lhes explicam todo o processo da gravidez e, principalmente, tudo o que vai acontecer durante o trabalho de parto. "Com a informação que ela nos dá, sentimo-nos mais confiantes, compreendemos melhor o nosso papel e aceitamo-lo", garante Patrícia.
O pequenino Guilherme ouve a mãe falar, muito tranquilo. Está com um bocadinho de sono, mas não resmunga. Para adormecer, a mãe não lhe dá a chucha porque ele não gosta – dá-lhe antes o seu dedo. Num encontro sobre amamentação, a que Patrícia costuma ir, sugeriram-lhe que pusesse o seu dedo mindinho na boca dele. Os bebés precisam da sensação de sugar para se acalmarem. E o Guilherme, que não gostava nada da chupeta, passou a adorar o dedo miminho da mãe.
Patrícia sabe como ajudar o Guilherme também noutros aspectos. A recém-mamã frequenta agora aulas de Reflexologia Podal Infantil. Explica que no pé temos reflectidos todos os órgãos do corpo. No caso dos bebés, através da reflexologia, é possível ajudar a resolver problemas que vão desde otites a cólicas ou obstipação, ou apenas ajudar a acalmá-los e relaxá-los. Patrícia já conhece na perfeição o pé do Guilherme: os dedos simbolizam a cabeça; a parte logo a seguir aos dedos simboliza o sistema respiratório; o meio do pé, a zona abdominal; e o calcanhar, os órgãos sexuais, onde, no caso dos bebés, não se toca. Garante que esta é uma ferramenta que já a ajudou, várias vezes.
Em situações mais complicadas, em vez de recorrer a medicamentos, tem optado pela homeopatia. O lema é que a cura está dentro de nós mesmos. Se o Guilherme tem algum problema, como uma constipação, os pais dão-lhe uns comprimidos muito pequeninos, feitos através da placenta da mãe. Apenas precisaram de enviar um bago de ervilha de placenta para a Alemanha. Devolveram-lhes uma série de concentrações, bolinhas muito pequeninas, que ajudam o bebé. Os pais garantem que funciona.
Patrícia teve acompanhamento médico até às 33 semanas de gravidez. Por volta das 25 semanas, juntamente com Fernando, fez uma formação com a sua doula, exactamente sobre o que iria acontecer durante o trabalho de parto. "Foi nessa formação que decidimos que iríamos ter o nosso bebé em casa", conta satisfeita. A doula forneceu-lhes o contacto de várias enfermeiras obstetras, para que o casal pudesse escolher aquela que mais lhes agradasse. Acabaram por contratar uma enfermeira perfeitamente equipada, o que lhes deu uma segurança ainda maior para avançar nessa decisão.
A mãe tinha sido acompanhada pelo médico e tudo estava bem a respeito da sua saúde e da do bebé. Se houvesse dúvidas em relação à situação de algum dos dois, nunca teriam avançado para a ideia de um parto domiciliário. Mas a verdade é que Patrícia sempre tinha pensado nesta opção, muito antes de estar grávida.
Logo depois de ter tomado conhecimento da existência das doulas, conheceu a Associação Portuguesa pela Humanização do Parto, Humpar, e a partir daí adquiriu muita informação acerca do tema. "Apercebi-me que não precisava assim tanto do apoio médico, não via aí o meu porto seguro, e que fazia todo o sentido pensar num parto mais humanizado", explica.
Outra das razões que influenciou a decisão foi saber da forma como algumas grávidas são tratadas no hospital. Para o casal, esta questão está directamente associada ao desenrolar do processo hormonal durante o trabalho de parto.
Existem duas hormonas essenciais que trabalham para que, durante o parto, o processo evolua ou se retraia. A hormona responsável pela evolução do trabalho de parto é a oxitocina. A oxitocina é segregada e as coisas vão, passo a passo, evoluindo. No hospital, a oxitocina sintética é injectada nas grávidas como forma de acelerar o processo de nascimento do bebé. Em casa, o que é que se pode fazer para ajudar a que a oxitocina não pare de ser produzida? Deixar a mulher ficar num sítio com pouca luz, onde as pessoas não a obriguem a falar, estar num espaço que ela conhece e que lhe seja confortável. A hormona contrária à oxitocina é a adrenalina. É sintetizada quando a mulher está no sítio onde vai dar à luz e surge alguém que não conhece – como um médico ou uma enfermeira –, quando lhe fazem perguntas, quando a tocam para controlar a dilatação ou através da própria luz do hospital. "Está-se exposta, está-se aberta, está-se virada para toda a gente, pessoas que não se conhece, que não nos tratam bem", diz Patrícia, incomodada só com o possível cenário. É em cada um destes momentos que surge a adrenalina, que retrai o avanço da oxitocina.
Surge aqui, ainda, uma outra questão – a famosa epidural. Esse é o recurso que nunca esteve na lista de opções do casal. Consideram que a epidural é tratada como sendo "a fada do parto", algo que não corresponde à verdade.
Numa aula de preparação para o parto, que Fernando e Patrícia frequentaram no Centro de Saúde local, confrontaram a enfermeira parteira acerca da relação entre a epidural e a cesariana. "Muito a custo, acabou por dizer que existe uma maior percentagem de mulheres que acabam em cesariana que levaram epidural do que aquelas que não levaram", revela Fernando. Este pai considera que é compreensível que, para uma enfermeira, seja muito mais fácil lidar com uma grávida que vai dar à luz sem dores e sem estar descontrolada. Isto porque a profissional apenas tem de ficar sentada e dizer para a mulher fazer força, visto que esta já está dormente e, por isso, nada sente. É a máquina à qual está ligada, o CTG, que avisa quando está a chegar a contracção e que é, então, momento de fazer força. "Claro que está com sede, está com calor, mas não sente dor. Isto é a solução mágica para qualquer pessoa – parir sem dor. E para um profissional é muito mais descansado", diz Fernando. Mas o recurso a este elixir pode desencadear complicações graves. Sob o efeito da epidural, as mulheres não sabem onde estão a fazer força, porque não estão a sentir a dor. Apesar de ela continuar presente, de o corpo dar o sinal, o cérebro não o recebe. Daí, muitas vezes, ter de se partir para a cesariana, para os fórceps, para as ventosas.
A posição usada nos hospitais para dar à luz é outra das questões que desagrada ao jovem casal. Acham que essa é uma forma de facilitar os profissionais e não a grávida. Fernando defende mesmo que, se uma mulher estivesse sozinha no momento do parto, de certeza não optaria por ficar deitada, com as pernas abertas e um pouco elevadas, como acontece no hospital. Tentaria procurar outras posições, até surgir alguma em que se sentisse mais confortável. "E se se sente mais confortável, então é porque é natural que seja assim", diz, dando um ênfase especial à palavra "natural".
Fernando, com o seu ar descontraído, fala acerca dos assuntos da maternidade com um claro envolvimento e interesse que não se vêem em qualquer pai. E gosta realmente de se envolver. Considera que o parto é algo da mulher e que ela não deve ter um papel tão passivo. "E não digam que não há informação. Hoje em dia o que não falta é Internet, bibliotecas, aulas de preparação para o parto grátis e encontros de grávidas, onde toda a gente fala sobre tudo e mais alguma coisa."
O seu desejo é que à semelhança de outras Câmaras Municipais, como a de Coimbra ou a de Braga, também a do Seixal adira a este conceito de horta comunitária. Através da cedência de terrenos à população, acredita que esta realidade se pode tornar possível no seio de mais famílias. Esta jovem, que considera relaxante a actividade de sujar as mãos na terra, acredita que grande parte das pessoas não aderiu ainda à ideia de ter uma horta por achar que é preciso ter muito espaço para se conseguir produzir. Ela desmente: "Para termos, por exemplo, uma planta de courggete, necessitamos apenas de um vaso com 20 centímetros de diâmetro e 20 centímetros de profundidade". O mesmo acontece para uma planta de beringela ou de tomate.
Saber para decidir
O pequenino Guilherme ainda só mama. Quando deixar de beber o leite da mãe, passará para as papas, mas diferentes das que estamos acostumados a ver – estas serão de agricultura biológica. A mãe, sob a crença de que "somos o que comemos", só faz as compras para casa em supermercados biológicos. Para ela, tornou-se uma questão de hábito: atravessa a ponte e vai às compras a Lisboa. Biocoop (Prior Velho), Brio (Campo de Ourique) e Miosótis (Campo Pequeno) são as lojas que costuma visitar para as compras de mercearia semanais.
Patrícia considera que sempre se interessou por "coisas um bocadinho alternativas". A sua mudança de atitude começou, justamente, pela alimentação: "Há quatro, cinco anos comecei a procurar uma alimentação mais vegetariana". Deixando de comer carne, começou a procurar novos ingredientes, a comprar novas revistas e a descobrir novos mundos. Chegou a frequentar formações em massagem ayurvédica e em massagem à cabeça.
Foi através da massagem ayurvédica que conheceu uma doula. Na altura, não fazia ideia do que significava mas conta que, mal chegou a casa, foi investigar sobre o assunto. Percebeu, então, que se algum dia engravidasse, gostaria muito que essa pessoa acompanhasse a sua gravidez e usufruir dos conhecimentos que ela lhe poderia oferecer. Assim foi: passados quatro anos de se terem conhecido, Patrícia engravidou e contactou-a para que fosse a sua doula.
Doula significa "mulher que ajuda". Trata-se de uma mulher que geralmente já foi mãe e que apoia "casais grávidos", como Patrícia gosta de chamar. Dá-lhes formação, explica-lhes todo o processo da gravidez, esclarece dúvidas e apoia-os a nível físico, com massagens e truques para que a mãe se sinta melhor. A doula fica ainda ao lado da mulher na altura do parto e ajuda-a a sentir-se segura nesse momento, de forma a facilitar o processo de nascimento do bebé.
A Associação Doulas de Portugal forma estas mulheres. Patrícia considera que elas fornecem uma ajuda muito importante aos casais, porque lhes explicam todo o processo da gravidez e, principalmente, tudo o que vai acontecer durante o trabalho de parto. "Com a informação que ela nos dá, sentimo-nos mais confiantes, compreendemos melhor o nosso papel e aceitamo-lo", garante Patrícia.
O pequenino Guilherme ouve a mãe falar, muito tranquilo. Está com um bocadinho de sono, mas não resmunga. Para adormecer, a mãe não lhe dá a chucha porque ele não gosta – dá-lhe antes o seu dedo. Num encontro sobre amamentação, a que Patrícia costuma ir, sugeriram-lhe que pusesse o seu dedo mindinho na boca dele. Os bebés precisam da sensação de sugar para se acalmarem. E o Guilherme, que não gostava nada da chupeta, passou a adorar o dedo miminho da mãe.
Patrícia sabe como ajudar o Guilherme também noutros aspectos. A recém-mamã frequenta agora aulas de Reflexologia Podal Infantil. Explica que no pé temos reflectidos todos os órgãos do corpo. No caso dos bebés, através da reflexologia, é possível ajudar a resolver problemas que vão desde otites a cólicas ou obstipação, ou apenas ajudar a acalmá-los e relaxá-los. Patrícia já conhece na perfeição o pé do Guilherme: os dedos simbolizam a cabeça; a parte logo a seguir aos dedos simboliza o sistema respiratório; o meio do pé, a zona abdominal; e o calcanhar, os órgãos sexuais, onde, no caso dos bebés, não se toca. Garante que esta é uma ferramenta que já a ajudou, várias vezes.
Em situações mais complicadas, em vez de recorrer a medicamentos, tem optado pela homeopatia. O lema é que a cura está dentro de nós mesmos. Se o Guilherme tem algum problema, como uma constipação, os pais dão-lhe uns comprimidos muito pequeninos, feitos através da placenta da mãe. Apenas precisaram de enviar um bago de ervilha de placenta para a Alemanha. Devolveram-lhes uma série de concentrações, bolinhas muito pequeninas, que ajudam o bebé. Os pais garantem que funciona.
Patrícia teve acompanhamento médico até às 33 semanas de gravidez. Por volta das 25 semanas, juntamente com Fernando, fez uma formação com a sua doula, exactamente sobre o que iria acontecer durante o trabalho de parto. "Foi nessa formação que decidimos que iríamos ter o nosso bebé em casa", conta satisfeita. A doula forneceu-lhes o contacto de várias enfermeiras obstetras, para que o casal pudesse escolher aquela que mais lhes agradasse. Acabaram por contratar uma enfermeira perfeitamente equipada, o que lhes deu uma segurança ainda maior para avançar nessa decisão.
A mãe tinha sido acompanhada pelo médico e tudo estava bem a respeito da sua saúde e da do bebé. Se houvesse dúvidas em relação à situação de algum dos dois, nunca teriam avançado para a ideia de um parto domiciliário. Mas a verdade é que Patrícia sempre tinha pensado nesta opção, muito antes de estar grávida.
Logo depois de ter tomado conhecimento da existência das doulas, conheceu a Associação Portuguesa pela Humanização do Parto, Humpar, e a partir daí adquiriu muita informação acerca do tema. "Apercebi-me que não precisava assim tanto do apoio médico, não via aí o meu porto seguro, e que fazia todo o sentido pensar num parto mais humanizado", explica.
Outra das razões que influenciou a decisão foi saber da forma como algumas grávidas são tratadas no hospital. Para o casal, esta questão está directamente associada ao desenrolar do processo hormonal durante o trabalho de parto.
Existem duas hormonas essenciais que trabalham para que, durante o parto, o processo evolua ou se retraia. A hormona responsável pela evolução do trabalho de parto é a oxitocina. A oxitocina é segregada e as coisas vão, passo a passo, evoluindo. No hospital, a oxitocina sintética é injectada nas grávidas como forma de acelerar o processo de nascimento do bebé. Em casa, o que é que se pode fazer para ajudar a que a oxitocina não pare de ser produzida? Deixar a mulher ficar num sítio com pouca luz, onde as pessoas não a obriguem a falar, estar num espaço que ela conhece e que lhe seja confortável. A hormona contrária à oxitocina é a adrenalina. É sintetizada quando a mulher está no sítio onde vai dar à luz e surge alguém que não conhece – como um médico ou uma enfermeira –, quando lhe fazem perguntas, quando a tocam para controlar a dilatação ou através da própria luz do hospital. "Está-se exposta, está-se aberta, está-se virada para toda a gente, pessoas que não se conhece, que não nos tratam bem", diz Patrícia, incomodada só com o possível cenário. É em cada um destes momentos que surge a adrenalina, que retrai o avanço da oxitocina.
Surge aqui, ainda, uma outra questão – a famosa epidural. Esse é o recurso que nunca esteve na lista de opções do casal. Consideram que a epidural é tratada como sendo "a fada do parto", algo que não corresponde à verdade.
Numa aula de preparação para o parto, que Fernando e Patrícia frequentaram no Centro de Saúde local, confrontaram a enfermeira parteira acerca da relação entre a epidural e a cesariana. "Muito a custo, acabou por dizer que existe uma maior percentagem de mulheres que acabam em cesariana que levaram epidural do que aquelas que não levaram", revela Fernando. Este pai considera que é compreensível que, para uma enfermeira, seja muito mais fácil lidar com uma grávida que vai dar à luz sem dores e sem estar descontrolada. Isto porque a profissional apenas tem de ficar sentada e dizer para a mulher fazer força, visto que esta já está dormente e, por isso, nada sente. É a máquina à qual está ligada, o CTG, que avisa quando está a chegar a contracção e que é, então, momento de fazer força. "Claro que está com sede, está com calor, mas não sente dor. Isto é a solução mágica para qualquer pessoa – parir sem dor. E para um profissional é muito mais descansado", diz Fernando. Mas o recurso a este elixir pode desencadear complicações graves. Sob o efeito da epidural, as mulheres não sabem onde estão a fazer força, porque não estão a sentir a dor. Apesar de ela continuar presente, de o corpo dar o sinal, o cérebro não o recebe. Daí, muitas vezes, ter de se partir para a cesariana, para os fórceps, para as ventosas.
A posição usada nos hospitais para dar à luz é outra das questões que desagrada ao jovem casal. Acham que essa é uma forma de facilitar os profissionais e não a grávida. Fernando defende mesmo que, se uma mulher estivesse sozinha no momento do parto, de certeza não optaria por ficar deitada, com as pernas abertas e um pouco elevadas, como acontece no hospital. Tentaria procurar outras posições, até surgir alguma em que se sentisse mais confortável. "E se se sente mais confortável, então é porque é natural que seja assim", diz, dando um ênfase especial à palavra "natural".
Fernando, com o seu ar descontraído, fala acerca dos assuntos da maternidade com um claro envolvimento e interesse que não se vêem em qualquer pai. E gosta realmente de se envolver. Considera que o parto é algo da mulher e que ela não deve ter um papel tão passivo. "E não digam que não há informação. Hoje em dia o que não falta é Internet, bibliotecas, aulas de preparação para o parto grátis e encontros de grávidas, onde toda a gente fala sobre tudo e mais alguma coisa."
O pequenino Guilherme tem outra diferença que o distingue dos outros bebés da sua idade: a falta de vacinas. Como não nasceu no hospital, não levou as primeiras vacinas – a da BCG, que protege contra a tuberculose, e a da hepatite B. Apesar de o Ministério Nacional de Saúde sugerir a vacinação, esta não é obrigatória. Os pais do Guilherme não são totalmente contra as vacinas, apenas não concordam com o calendário de vacinação sugerido – consideram-no muito precoce.
O Guilherme só foi vacinado contra a BCG aos três meses de idade. Patrícia não está a pensar vaciná-lo já contra a hepatite B, pois acha que um bebé com pouco tempo de vida não vai contactar com sémen, sangue ou suor de pessoas contaminadas. Esta mãe considera que, também neste aspecto, as pessoas estão muito limitadas em termos de informação. "As pessoas não sabem, mas até aqui as vacinas eram conservadas em mercúrio, um metal muito tóxico que não faz bem a ninguém", explica.
Nascer em casa
A partir do oitavo mês de gravidez, ao começar a ser acompanhada pela enfermeira obstetra, Patrícia deixou de o ser pelo médico. Os CTG's passou a fazê-los em casa – a controlar o batimento cardíaco do bebé e a existência de contracções uterinas. Um dos requisitos que a enfermeira teve como obrigatório, para avançar no acompanhamento do parto domiciliário, foi o de que o casal vivesse a menos de meia hora de um centro hospitalar. Essa seria sempre a opção de recurso se surgissem problemas relacionados com o parto.
Quando chegou o grande momento, a hora em que o Guilherme quis vir conhecer os pais, a mãe diz que lhe foi passada "uma grande rasteira". Imaginava que o seu parto seria muito longo, como o é para a maioria das mulheres, principalmente quando se trata do primeiro filho (a média é de 16 horas), mas todo o trabalho de parto se desenrolou em apenas cinco horas.
Começava a noite quando Patrícia entrou em trabalho de parto. Era o momento de telefonar para a doula e para a enfermeira obstetra, mas Patrícia conta que pediu a Fernando para não o fazer tão cedo. "Eu achava que o trabalho de parto ainda ia demorar muito tempo, então disse-lhe para não as chamar. 'Coitadas, vêm para aí passar a noite às claras, não vale a pena!', dizia-lhe eu."
É comum ouvirem-se histórias de bebés que, em partos domiciliários, nascem dentro de água. Isto porque a água ajuda a atenuar a dor. Mas não foi assim que aconteceu com Patrícia que, por se sentir mais ligada à terra do que à água, acabou por dar à luz de joelhos, em cima da sua cama.
O trabalho de parto desenrolou-se com muita intensidade e muita rapidez. O casal partilhou todo o processo em casa, sozinho. Fernando descreve: "Eu agarrava-me a ela e fazíamos um movimento, uma espécie de dança, que aprendemos nas aulas de preparação para o parto". Era o movimento pélvico, que, feito durante a contracção, ajuda o bebé a encaixar-se mais correctamente no colo do útero, de maneira a que depois possa sair. Não falavam muito e mantinham-se com pouca luz, apenas a possível através de algumas velas acesas pelo pai. Patrícia conta: "Quando o bebé nasceu, eu olhei para as velas e ainda estavam acesas. Pensei ‘isto foi tão rápido que as velas ainda nem sequer se apagaram!’"
Apesar de terem acabado por ser chamadas, tudo se desenrolou tão depressa que a doula chegou meia hora antes de o Guilherme nascer e a enfermeira cinco minutos depois do nascimento. Apesar de o casal ter estado sempre sozinho, Patrícia diz que em nenhum momento teve medo. "O Fernando apoiou-me muito. Se ele não tivesse estado presente, esta história tinha corrido de outra maneira, provavelmente muito pior."
Estavam cientes do que lhes ia acontecer, porque estavam informados. O pai esteve sempre presente em todas as formações e sabia, tanto como a mãe, o que fazer. Talvez até mais. Patrícia diz que, ao entrar em trabalho de parto, a mulher vai para a "Partolândia" e se esquece da maior parte das coisas que aprendeu e que a podem ajudar. Mas Fernando assumiu a responsabilidade e tomou conta do recado.
O pequenino Guilherme nasceu à meia-noite e 34 minutos, de excelente saúde. "20 minutos após o nascimento, o pai fez a inauguração do bebé, cortando o cordão umbilical", conta Patrícia entre risos. Mas isto só após a placenta ter deixado de pulsar sangue, sangue esse muito rico em ferro. Como o parto se tinha desenrolado com muita rapidez, a pedido da enfermeira o casal deixou de lado a sua opção de doar as células estaminais ao Banco Português de Células Estaminais e deram-nas ao seu bebé.
Esta é uma experiência de que não se arrependem. Patrícia conta, bem-disposta, que às três horas da manhã já estavam todos em cima da cama, a falar sobre o que tinha acontecido, a comer torradinhas e a beber chá. O bebé estava com eles e isso era motivo bastante para a felicidade sentida. Com um brilhozinho nos olhos, partilha: "Foi tudo tão natural, tão bom, tão familiar, e eu acho que o nosso filho ganhou muito com isso".
O pequenino Guilherme parece concordar com as palavras da mãe. Chega a hora de mudar a fralda e, para ele, esta é também uma tarefa ligeiramente diferente da maioria dos bebés. É que o Guilherme usa fraldas reutilizáveis.
Cada bebé produz, no final da sua vida útil de utilização de fraldas, uma tonelada de lixo. Estima-se que esse lixo ficará 500 anos no planeta. A mãe e o pai do Guilherme preocupam-se com isto e acreditam que a sua atitude pode mudar alguma coisa. Além disso, esta é também uma forma de pouparem dinheiro. Quando o Guilherme nasceu, gastaram 400€ em fraldas, mas no final de todo este processo terão poupado 1200€. E se, mais tarde, a família tiver mais um bebé, podem voltar a utilizar as fraldas do Guilherme e já não gastam dinheiro. Para os papás, esta também é uma fonte de tranquilidade porque, assim, o seu bebé não tem contacto com muitos químicos que existem nas fraldas descartáveis.
O Guilherme só foi vacinado contra a BCG aos três meses de idade. Patrícia não está a pensar vaciná-lo já contra a hepatite B, pois acha que um bebé com pouco tempo de vida não vai contactar com sémen, sangue ou suor de pessoas contaminadas. Esta mãe considera que, também neste aspecto, as pessoas estão muito limitadas em termos de informação. "As pessoas não sabem, mas até aqui as vacinas eram conservadas em mercúrio, um metal muito tóxico que não faz bem a ninguém", explica.
Nascer em casa
A partir do oitavo mês de gravidez, ao começar a ser acompanhada pela enfermeira obstetra, Patrícia deixou de o ser pelo médico. Os CTG's passou a fazê-los em casa – a controlar o batimento cardíaco do bebé e a existência de contracções uterinas. Um dos requisitos que a enfermeira teve como obrigatório, para avançar no acompanhamento do parto domiciliário, foi o de que o casal vivesse a menos de meia hora de um centro hospitalar. Essa seria sempre a opção de recurso se surgissem problemas relacionados com o parto.
Quando chegou o grande momento, a hora em que o Guilherme quis vir conhecer os pais, a mãe diz que lhe foi passada "uma grande rasteira". Imaginava que o seu parto seria muito longo, como o é para a maioria das mulheres, principalmente quando se trata do primeiro filho (a média é de 16 horas), mas todo o trabalho de parto se desenrolou em apenas cinco horas.
Começava a noite quando Patrícia entrou em trabalho de parto. Era o momento de telefonar para a doula e para a enfermeira obstetra, mas Patrícia conta que pediu a Fernando para não o fazer tão cedo. "Eu achava que o trabalho de parto ainda ia demorar muito tempo, então disse-lhe para não as chamar. 'Coitadas, vêm para aí passar a noite às claras, não vale a pena!', dizia-lhe eu."
É comum ouvirem-se histórias de bebés que, em partos domiciliários, nascem dentro de água. Isto porque a água ajuda a atenuar a dor. Mas não foi assim que aconteceu com Patrícia que, por se sentir mais ligada à terra do que à água, acabou por dar à luz de joelhos, em cima da sua cama.
O trabalho de parto desenrolou-se com muita intensidade e muita rapidez. O casal partilhou todo o processo em casa, sozinho. Fernando descreve: "Eu agarrava-me a ela e fazíamos um movimento, uma espécie de dança, que aprendemos nas aulas de preparação para o parto". Era o movimento pélvico, que, feito durante a contracção, ajuda o bebé a encaixar-se mais correctamente no colo do útero, de maneira a que depois possa sair. Não falavam muito e mantinham-se com pouca luz, apenas a possível através de algumas velas acesas pelo pai. Patrícia conta: "Quando o bebé nasceu, eu olhei para as velas e ainda estavam acesas. Pensei ‘isto foi tão rápido que as velas ainda nem sequer se apagaram!’"
Apesar de terem acabado por ser chamadas, tudo se desenrolou tão depressa que a doula chegou meia hora antes de o Guilherme nascer e a enfermeira cinco minutos depois do nascimento. Apesar de o casal ter estado sempre sozinho, Patrícia diz que em nenhum momento teve medo. "O Fernando apoiou-me muito. Se ele não tivesse estado presente, esta história tinha corrido de outra maneira, provavelmente muito pior."
Estavam cientes do que lhes ia acontecer, porque estavam informados. O pai esteve sempre presente em todas as formações e sabia, tanto como a mãe, o que fazer. Talvez até mais. Patrícia diz que, ao entrar em trabalho de parto, a mulher vai para a "Partolândia" e se esquece da maior parte das coisas que aprendeu e que a podem ajudar. Mas Fernando assumiu a responsabilidade e tomou conta do recado.
O pequenino Guilherme nasceu à meia-noite e 34 minutos, de excelente saúde. "20 minutos após o nascimento, o pai fez a inauguração do bebé, cortando o cordão umbilical", conta Patrícia entre risos. Mas isto só após a placenta ter deixado de pulsar sangue, sangue esse muito rico em ferro. Como o parto se tinha desenrolado com muita rapidez, a pedido da enfermeira o casal deixou de lado a sua opção de doar as células estaminais ao Banco Português de Células Estaminais e deram-nas ao seu bebé.
Esta é uma experiência de que não se arrependem. Patrícia conta, bem-disposta, que às três horas da manhã já estavam todos em cima da cama, a falar sobre o que tinha acontecido, a comer torradinhas e a beber chá. O bebé estava com eles e isso era motivo bastante para a felicidade sentida. Com um brilhozinho nos olhos, partilha: "Foi tudo tão natural, tão bom, tão familiar, e eu acho que o nosso filho ganhou muito com isso".
O pequenino Guilherme parece concordar com as palavras da mãe. Chega a hora de mudar a fralda e, para ele, esta é também uma tarefa ligeiramente diferente da maioria dos bebés. É que o Guilherme usa fraldas reutilizáveis.
Cada bebé produz, no final da sua vida útil de utilização de fraldas, uma tonelada de lixo. Estima-se que esse lixo ficará 500 anos no planeta. A mãe e o pai do Guilherme preocupam-se com isto e acreditam que a sua atitude pode mudar alguma coisa. Além disso, esta é também uma forma de pouparem dinheiro. Quando o Guilherme nasceu, gastaram 400€ em fraldas, mas no final de todo este processo terão poupado 1200€. E se, mais tarde, a família tiver mais um bebé, podem voltar a utilizar as fraldas do Guilherme e já não gastam dinheiro. Para os papás, esta também é uma fonte de tranquilidade porque, assim, o seu bebé não tem contacto com muitos químicos que existem nas fraldas descartáveis.
Confiar na natureza
Patrícia sente-se agora uma pessoa diferente, desde que o seu bebé nasceu e se tornou mãe. Encara a sua experiência de parto como um ritual de passagem. As dores sentidas não lhe causam aflição – refere-se a elas como sendo dores boas, porque lhe anunciavam a chegada do Guilherme. Gostava que a sua história chegasse a outras futuras mães porque considera que hoje em dia, com o evoluir da medicina, as mulheres acabaram por perder o contacto consigo mesmas. Quando uma gravidez é acompanhada e não atravessa nenhum problema, estas devem pensar no poder que têm e acreditar nele. "O médico pode estar na retaguarda de um trabalho de parto mas não precisa de intervir, porque nós temos toda a sabedoria e conhecimento para passar por esse ritual de vida que é o nascimento de um filho."
Defende que as mulheres precisam que lhes dêem o seu poder de volta, sem intervenções, porque já passaram oito horas e a dilatação ainda não está completa. Cada mulher é uma mulher e todas têm tempos diferentes. "Precisamos é de tempo, espaço e confiança", defende Patrícia. E a confiança cresce com a informação que se adquire.
Patrícia conta espantada que quando no Centro de Saúde explicaram às futuras mães o que era um plano de parto, a maior parte respondeu: "Fazer um plano de parto para quê? No hospital, o médico sabe o que tem de fazer". Um plano de parto consiste, tão simplesmente, num estabelecimento de parâmetros que a mãe quer ver respeitados quando for para o hospital dar à luz (não fazer clister, não receber oxitocina sintética, que não lhe depilem os pêlos púbicos, que seja o pai a cortar o cordão umbilical, etc.). Representa, basicamente, o respeito pela vontade da mulher. Patrícia chegou a enviar dois planos de parto para dois hospitais onde o seu bebé poderia, eventualmente, vir a nascer. Considera que este é o primeiro passo para o caminhar de uma maior humanização do parto.
O pequenino Guilherme não podia ter nascido de forma mais humanizada. Os seus primeiros meses de vida também não podiam estar a ser mais humanizados. Usufrui de mais um cuidado especial: é limpo com pequenos pedaços de tecido, de flanela, embebidos numa loção de chá de camomila e óleo de sésamo, feita pela mãe. Assim, evita a utilização das comuns toalhitas, que, tal como as fraldas, não são inócuas. Patrícia diz que se pegarmos num pacote da Dodot e lermos os seus componentes, o que vamos encontrar são uma série de químicos que não podem favorecer em nada os bebés.
Muitas das doenças que existem hoje em dia resultam de um envenenamento crónico; sem darmos conta, ingerimos constantemente químicos tóxicos. Mas a verdade é que as pessoas têm dificuldade em mudar o seu comportamento porque, cada vez mais, procuram o facilitismo.
A recém-mamã encontra-se agora a usufruir da sua licença de maternidade de cinco meses. Quando tiver de regressar ao trabalho no meio dos morangos, o pequenino Guilherme irá consigo. Mas não por muito tempo; em Outubro iniciará a sua vida fora das asas da mãe. Vai entrar para uma creche familiar – uma ama apoiada pela Segurança Social. Levará consigo as suas papas de agricultura biológica, com muito gosto.
O pai Fernando, com a emotividade habitual, faz questão de frisar que não se consideram fundamentalistas. Tomam apenas as opções que julgam ser melhores para a sua família. Quando o Guilherme nasceu, a conselho médico, chegaram mesmo a usar fraldas descartáveis e, se for preciso, a Patrícia até come carne.
A mãe, ao relembrar o nascimento do seu bebé, garante com o ar sorridente de sempre: "Sinto um orgulho e uma felicidade muito grandes. Ainda tenho a experiência muito viva em mim e acho que foi um dos melhores momentos da minha vida". A sua recuperação foi tão boa que, no dia seguinte ao parto, já andava a passear pela casa (levou apenas três pontos). "Não me senti nada mutilada. Senti-me muito respeitada e só tenho recordações boas."
Fernando e Patrícia avançam, assim, juntos na convicção de que o nascimento de um filho tem de ser vivido de forma plena. Não só para Patrícia a experiência foi arrebatadora; Fernando viveu-a com o mesmo sentimento. Com uma pontinha de inveja, confessa perceber agora o elo de ligação especial que existe entre uma mãe e um filho. É o resultado dos nove meses em que ele esteve dentro da sua barriga, "o parir, que é uma coisa brutal", segundo as suas palavras, e o período de amamentação, que faz com que haja uma ligação de pelo menos quase dois anos entre o filho e a mãe. "Não é a mesma coisa que acontece com o pai", admite.
É com este mesmo respeito pelo papel da mulher e da maternidade que ainda o podemos ouvir dizer: "No hospital têm pressa para ver se está tudo bem com o bebé, para medi-lo, para pesá-lo, para vesti-lo, para metê-lo todo bonequinho, para só depois o entregar à mãe para a primeira mamada. Na realidade, o que a mãe quer é a cria nas mãos, quer a cria no peito, quer a cria com ela. Então ela acabou de parir!"
Este é o retrato de uma jovem família dedicada e crente no poder da natureza. Quem pensar que são uns malucos perdidos na roda do tempo, que pare e se reveja. O pequenino Guilherme neste caso veio mesmo mostrar que: quem chama é quem é.