Em Chelas o design acontece
O empreendedorismo com boas práticas sociais e ambientais chegou ao Bairro do Armador
Uma senhora de idade já avançada e vestida de preto dos pés à cabeça pára à entrada da loja para dar dois dedos de conversa. O varredor de rua da Câmara estaciona o carrinho à porta e entra para tagarelar como pausa do expediente. As crianças entram e saem da loja, como se ali morasse a nova atracção do bairro. Dentro do espaço, mulheres costuram e homens estudam posições e ângulos de pedaços de madeira e cerâmica. Esta é muito mais do que uma oficina de bairro – é um bairro a viver uma oficina.
Desde Julho que no Bairro do Armador, em Chelas, tem acção o projecto reMix – intervir e recriar. A iniciativa procura fomentar o empreendedorismo, aliado às boas práticas sociais e ambientais, junto dos moradores deste bairro social. O design foi a ferramenta-chave escolhida para a acção do projecto. Neste momento, cinco habitantes do bairro trabalham lado a lado com designers convidados – os objectos que os últimos projectam tornam-se reais pelas mãos dos primeiros. Cada peça é criada manualmente a partir de materiais reaproveitados, assegurando-se assim a vertente ecológica da iniciativa.
A equipa Eco-design é composta por pessoas com idades entre os 23 e os 56 anos. O mais jovem é Pedro Oliveira, recém-licenciado em Design Industrial, o único dos cinco com formação na área. "Temos pessoas para tudo aqui no Bairro do Armador; isso é que é incrível e torna isto verdadeiramente apaixonante", diz ele. O jovem, que quer seguir Design Social, garante que esta experiência é uma boa preparação para o que quer fazer no futuro. "Tenho a certeza de que quando criar uma peça já vou dar mais ênfase a comunicar com as pessoas que a irão produzir, porque já estive no lugar delas."
Cada elemento recebe mensalmente uma bolsa no valor de 300 euros, valor que representa uma grande ajuda nos seus orçamentos. Antes de entrarem no projecto, Joaquim Lopes e António Carreira viviam com pouco mais de 100 euros mensais, provenientes do rendimento social de inserção. Liliana Simões, desempregada, não recebia sequer qualquer tipo de subsídio. Cristiana Abreu ainda hoje não tem residência fixa – grávida do primeiro filho, explica que a sua vida é passada a saltar de casa em casa de familiares. Segundo Ângelo Campota, coordenador do projecto, os critérios de selecção destes elementos, de entre 120 candidatos, basearam-se essencialmente no facto de serem pessoas sem uma ocupação e de revelarem interesse e competências na área dos trabalhos manuais.
Cristiana é de etnia cigana. Num bairro onde diversas comunidades e culturas coabitam – nem sempre pacificamente –, a opção por integrar este elemento na equipa não foi feita ao acaso. O projecto aproveita assim para fomentar a multiculturalidade característica do bairro. Cristiana trabalhava como animadora sociocultural antes de se casar, há cerca de três anos. Enquanto costura uma manta de retalhos, revela que as mulheres ciganas, depois do casamento, são obrigadas a abandonar o seu trabalho, podendo a partir daí dedicar-se apenas à venda. O rumo que tomou não fugiu à regra. Ao seu lado, Liliana conta que mora na casa da sogra apenas com o filho mais novo. "O meu sonho é ter uma casinha onde possa morar com os meus três filhos", diz.
O projecto reMix tem despertado muita curiosidade entre os moradores do bairro por ser algo inédito na zona. Existe uma tentativa de mobilizar toda a comunidade para que esta colabore, por exemplo através da recolha de materiais para o fabrico das peças. E é com a ajuda de todo o bairro que a magia acontece. De um estore de janela nasce um tabuleiro. A partir de tacos de madeira faz-se um banco. Desperdícios de linhas transformam-se num candeeiro. As peças têm como público-alvo a população de fora da zona M de Chelas. Pretende-se diminuir o preconceito em relação ao bairro, de modo a que os clientes não tenham medo de ir buscar as peças à oficina, se assim entenderem. Trata-se de abrir as portas do Bairro do Armador.
Metade do valor da venda dos objectos reverterá para o projecto e outra metade para os participantes. A venda será feita online e em algumas lojas a partir de Dezembro, sendo que já existem encomendas. O projecto, financiado pela Câmara Municipal de Lisboa no âmbito do programa Bairros e Zonas de Intervenção Prioritária de Lisboa, terá uma duração de oito meses. A partir de Fevereiro os participantes deixarão de receber a bolsa e espera-se que já sejam capazes de gerar soluções de auto-emprego e levar o Eco-design a bom porto. Mas essa tem também de ser a vontade dos envolvidos. Joaquim, o mais velho, parece ser também o mais crente. Diz ele: "Se isto der resultado e tiver saída, podíamos juntar-nos os cinco, fazer uma pequenina empresa e andar com isto para a frente. Mas só o futuro o dirá."
Desde Julho que no Bairro do Armador, em Chelas, tem acção o projecto reMix – intervir e recriar. A iniciativa procura fomentar o empreendedorismo, aliado às boas práticas sociais e ambientais, junto dos moradores deste bairro social. O design foi a ferramenta-chave escolhida para a acção do projecto. Neste momento, cinco habitantes do bairro trabalham lado a lado com designers convidados – os objectos que os últimos projectam tornam-se reais pelas mãos dos primeiros. Cada peça é criada manualmente a partir de materiais reaproveitados, assegurando-se assim a vertente ecológica da iniciativa.
A equipa Eco-design é composta por pessoas com idades entre os 23 e os 56 anos. O mais jovem é Pedro Oliveira, recém-licenciado em Design Industrial, o único dos cinco com formação na área. "Temos pessoas para tudo aqui no Bairro do Armador; isso é que é incrível e torna isto verdadeiramente apaixonante", diz ele. O jovem, que quer seguir Design Social, garante que esta experiência é uma boa preparação para o que quer fazer no futuro. "Tenho a certeza de que quando criar uma peça já vou dar mais ênfase a comunicar com as pessoas que a irão produzir, porque já estive no lugar delas."
Cada elemento recebe mensalmente uma bolsa no valor de 300 euros, valor que representa uma grande ajuda nos seus orçamentos. Antes de entrarem no projecto, Joaquim Lopes e António Carreira viviam com pouco mais de 100 euros mensais, provenientes do rendimento social de inserção. Liliana Simões, desempregada, não recebia sequer qualquer tipo de subsídio. Cristiana Abreu ainda hoje não tem residência fixa – grávida do primeiro filho, explica que a sua vida é passada a saltar de casa em casa de familiares. Segundo Ângelo Campota, coordenador do projecto, os critérios de selecção destes elementos, de entre 120 candidatos, basearam-se essencialmente no facto de serem pessoas sem uma ocupação e de revelarem interesse e competências na área dos trabalhos manuais.
Cristiana é de etnia cigana. Num bairro onde diversas comunidades e culturas coabitam – nem sempre pacificamente –, a opção por integrar este elemento na equipa não foi feita ao acaso. O projecto aproveita assim para fomentar a multiculturalidade característica do bairro. Cristiana trabalhava como animadora sociocultural antes de se casar, há cerca de três anos. Enquanto costura uma manta de retalhos, revela que as mulheres ciganas, depois do casamento, são obrigadas a abandonar o seu trabalho, podendo a partir daí dedicar-se apenas à venda. O rumo que tomou não fugiu à regra. Ao seu lado, Liliana conta que mora na casa da sogra apenas com o filho mais novo. "O meu sonho é ter uma casinha onde possa morar com os meus três filhos", diz.
O projecto reMix tem despertado muita curiosidade entre os moradores do bairro por ser algo inédito na zona. Existe uma tentativa de mobilizar toda a comunidade para que esta colabore, por exemplo através da recolha de materiais para o fabrico das peças. E é com a ajuda de todo o bairro que a magia acontece. De um estore de janela nasce um tabuleiro. A partir de tacos de madeira faz-se um banco. Desperdícios de linhas transformam-se num candeeiro. As peças têm como público-alvo a população de fora da zona M de Chelas. Pretende-se diminuir o preconceito em relação ao bairro, de modo a que os clientes não tenham medo de ir buscar as peças à oficina, se assim entenderem. Trata-se de abrir as portas do Bairro do Armador.
Metade do valor da venda dos objectos reverterá para o projecto e outra metade para os participantes. A venda será feita online e em algumas lojas a partir de Dezembro, sendo que já existem encomendas. O projecto, financiado pela Câmara Municipal de Lisboa no âmbito do programa Bairros e Zonas de Intervenção Prioritária de Lisboa, terá uma duração de oito meses. A partir de Fevereiro os participantes deixarão de receber a bolsa e espera-se que já sejam capazes de gerar soluções de auto-emprego e levar o Eco-design a bom porto. Mas essa tem também de ser a vontade dos envolvidos. Joaquim, o mais velho, parece ser também o mais crente. Diz ele: "Se isto der resultado e tiver saída, podíamos juntar-nos os cinco, fazer uma pequenina empresa e andar com isto para a frente. Mas só o futuro o dirá."