Fugir à fome
Em 1957 Manuel Mendonça foi à aldeia de Vale Serrão buscar Adelaide e trouxe-a consigo para Lisboa. Ela tinha 21 e ele 27 anos. Casaram-se a um sábado e na segunda-feira seguinte já estavam a caminho da capital. Foram dos primeiros da família a fugir à fome e à dureza do campo que se viviam naquelas terras – depois disso, muitos lhes seguiriam os passos.
Adelaide e Manuel Mendonça têm hoje 75 e 81 anos, respectivamente. São naturais da aldeia de Vale Serrão, no concelho de Pampilhosa da Serra. Os seus primeiros tempos em Lisboa não foram um mar de rosas. Todos os dias às 7 horas da manhã se podia encontrar Manuel na chamada "casa do conto", primeiro situada na Praça da Ribeira e mais tarde no Jardim do Tabaco. Aí chegavam os pedidos das companhias de navegação e eram distribuídos os homens por funções. Ele trabalhou durante muitos anos como estivador no Porto de Lisboa. Empregou-se também em armazéns a fazer entregas. Adelaide trabalhou a dias. Como os rendimentos eram pequenos, vendiam ainda quadros religiosos porta a porta, de modo a terem mais algum dinheiro.
Quando outros familiares oriundos da aldeia começaram a migrar também para Lisboa, era este casal que primeiro procuravam. Deram tecto a muita gente e ajudaram quem puderam, algo que consideram que "qualquer um faria". "A casa era pequena mas dava para todos", dizem eles.
Apesar das dificuldades, nunca pensaram voltar para a sua terra. Tudo lhes pareceu melhor do que terem de trabalhar os campos em jejum e não terem muitas vezes mais do que uma couve para comer. Regressar ainda hoje é uma alternativa que está fora de questão. "Voltar, só de férias", apressa-se Manuel a dizer. Mas não guardam rancor da terra onde nasceram. "A pobreza às vezes faz a gente alegre", diz ele ainda a sorrir.
Aquando da sua vinda para a capital, Manuel já sabia o que era uma cidade – em 1951 tinha ido para Tomar, onde fez a tropa. Terminada a recruta e regressado a casa, adoeceu e a mãe mandou-o vir para Lisboa de modo a consultar um médico. Assim fez. Ao chegar, procurou um tio que já estava na cidade mas não pôde ficar a viver com ele devido à falta de espaço na casa. A sua primeira noite na cidade foi então passada num quarto alugado, em casa de um sapateiro, na Rua dos Remédios em Alfama. Viria depois a viver numa casa dividida entre vários homens, na mesma rua, até se casar.
A namorada, Adelaide, tinha ficado em Vale Serrão. Durante alguns meses escreveram um ao outro até que Manuel decidiu ir à terra casar e depressa fez questão de trazer a esposa para a cidade grande. Juntos foram morar no "sótão mais alto de Alfama", segundo Manuel, na Rua das Escolas Gerais. Na mesma rua existia a Casa do Concelho de Pampilhosa da Serra. Aí se encontravam com pessoas oriundas da mesma região, iam às festas e aos bailes e tinham contacto com um bocadinho de casa.
Adelaide e Manuel Mendonça têm hoje 75 e 81 anos, respectivamente. São naturais da aldeia de Vale Serrão, no concelho de Pampilhosa da Serra. Os seus primeiros tempos em Lisboa não foram um mar de rosas. Todos os dias às 7 horas da manhã se podia encontrar Manuel na chamada "casa do conto", primeiro situada na Praça da Ribeira e mais tarde no Jardim do Tabaco. Aí chegavam os pedidos das companhias de navegação e eram distribuídos os homens por funções. Ele trabalhou durante muitos anos como estivador no Porto de Lisboa. Empregou-se também em armazéns a fazer entregas. Adelaide trabalhou a dias. Como os rendimentos eram pequenos, vendiam ainda quadros religiosos porta a porta, de modo a terem mais algum dinheiro.
Quando outros familiares oriundos da aldeia começaram a migrar também para Lisboa, era este casal que primeiro procuravam. Deram tecto a muita gente e ajudaram quem puderam, algo que consideram que "qualquer um faria". "A casa era pequena mas dava para todos", dizem eles.
Apesar das dificuldades, nunca pensaram voltar para a sua terra. Tudo lhes pareceu melhor do que terem de trabalhar os campos em jejum e não terem muitas vezes mais do que uma couve para comer. Regressar ainda hoje é uma alternativa que está fora de questão. "Voltar, só de férias", apressa-se Manuel a dizer. Mas não guardam rancor da terra onde nasceram. "A pobreza às vezes faz a gente alegre", diz ele ainda a sorrir.
Aquando da sua vinda para a capital, Manuel já sabia o que era uma cidade – em 1951 tinha ido para Tomar, onde fez a tropa. Terminada a recruta e regressado a casa, adoeceu e a mãe mandou-o vir para Lisboa de modo a consultar um médico. Assim fez. Ao chegar, procurou um tio que já estava na cidade mas não pôde ficar a viver com ele devido à falta de espaço na casa. A sua primeira noite na cidade foi então passada num quarto alugado, em casa de um sapateiro, na Rua dos Remédios em Alfama. Viria depois a viver numa casa dividida entre vários homens, na mesma rua, até se casar.
A namorada, Adelaide, tinha ficado em Vale Serrão. Durante alguns meses escreveram um ao outro até que Manuel decidiu ir à terra casar e depressa fez questão de trazer a esposa para a cidade grande. Juntos foram morar no "sótão mais alto de Alfama", segundo Manuel, na Rua das Escolas Gerais. Na mesma rua existia a Casa do Concelho de Pampilhosa da Serra. Aí se encontravam com pessoas oriundas da mesma região, iam às festas e aos bailes e tinham contacto com um bocadinho de casa.